Resultados obtidos num estudo prospetivo com doentes hepáticos crónicos (DHC) de 6 países europeus, mostram que doentes com cirrose hepática têm uma resposta imunitária mais baixa à vacina contra a Covid-19, após duas doses da vacina.   

Num novo estudo, liderado por Rui Castro, Professor na Faculdade de Farmácia Universidade de Lisboa (FFUL) e investigador no Instituto de Investigação do Medicamento da FFUL (iMed.ULisboa), percebeu-se que existe uma diferença na resposta imunológica à vacina contra a Covid-19 em indivíduos com Doença Hepática Crónica (DHC). Os doentes com cirrose têm uma menor resposta imunitária até seis meses após vacinação com as duas doses; doentes com hepatite viral ou terapia antiviral apresentaram uma maior resposta imunitária às vacinas. Este resultado poderá estar relacionado “com a disfunção imunológica associada à cirrose”, refere Rui Castro, que acrescenta que “a correlação entre a presença de hepatite viral com níveis mais altos de anticorpos em resposta à vacinação foi algo que não estávamos à espera e pretendemos explorar”.

Foram consideradas no estudo vários tipos de vacina de mRNA contra Covid-19, tendo sido comparados doentes que foram infetados pelo vírus SARS-COV-2 nos 2 a 6 meses após a imunização, com doentes que não foram infetados. Nos dados obtidos, não se verificou nenhuma correlação entre o tipo de vacina e a infeção pela Covid-19, bem como nenhuma associação entre os níveis de anticorpos e a eficácia da vacina. Significa isto, que a vacinação é importante para este grupo de pessoas, e que se deve apostar em doses de reforço. Rui Castro não tem dúvidas de que “embora se devam realizar estudos adicionais, achamos importante que esta mensagem seja desde já transmitida aos doentes, isto é, que as diferentes vacinas de mRNA contra a Covid-19 são eficazes num grupo diversificado de doentes com DHC. Isso ajudará a aumentar a confiança nos planos de vacinação implementados pelos diferentes governos”.

O objetivo do consórcio por detrás deste estudo – HEPCOVIVAc – “foi criar um registo clínico prospetivo de doentes com DHC vacinados contra a Covid-19, permitindo estudos abrangentes sobre a segurança e a eficácia da vacinação nesta população”. O consórcio foi coliderado por Helena Cortez-Pinto da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, contando também com a participação André Simão, Carolina Palma e supervisionado por João Gonçalves, do iMed-ULisboa.

O estudo contou com mais de 350 pacientes com DHC recrutados em centros clínicos da Bélgica, Áustria, Itália, Portugal, Romênia e Espanha. Foi publicado este mês na revista científica JHEP Reports, podendo ser consultado na integra online.