Antes de qualquer outra coisa, Hélder Mota Filipe é Professor. Aqui, na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Para o Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF), deixar de dar aulas não é uma hipótese.
Nesta conversa para o qual foi desafiado, fala um pouco sobre a sua visão do papel do farmacêutico, a necessidade de implementar um sistema de carreiras efetivo no público e no privado, e sublinha a importância da especialização de cada farmacêutico.

Tiago Sequeira – Por que se tornou farmacêutico?
Hélder Mota Filipe – Tornei-me farmacêutico porque sempre gostei de ciência, de laboratório e da área da saúde. Como todas as crianças, nós pensamos, quando gostamos destas coisas, em ser médicos. O meu problema é que tenho uma aversão sofrimento, portanto ser médico sem conseguir gerir o sofrimento dos doentes era um problema. Portanto, naturalmente senti que a saída era ciências Farmacêuticas na altura.

TS – E o que é ser farmacêutico?
HMF – É ser um profissional de saúde altamente diferenciado, que mais do que lutar pelo seu próprio desenvolvimento, deve desenvolver-se para dar resposta às necessidades da sociedade.

TS – Em relação às profissões do farmacêutico: estamos muito formatados apenas para farmácia comunitária ou hospitalar enquanto saídas profissionais? Ou considera que já existe uma consciência para outras possibilidades como as análises clínicas, investigação em laboratório…
HMF – O mestrado em ciências farmacêuticas sempre foi de largo espectro: dá-nos uma formação que nos permite desenvolver diferentes atividades. As clássicas sempre foram a indústria farmacêutica, as análises clínicas, a farmácia comunitária ou farmácia hospitalar, mas hoje, cada vez mais temos um conjunto de outras atividades, nomeadamente os assuntos regulamentares, a área dos dispositivos médicos, saúde pública… Há um conjunto de áreas que se abrem para além das clássicas, e que é fundamental que os farmacêuticos as apanhem. E que o façam não por decreto – uma lei que diz que só os farmacêuticos é que podem fazer –, mas que as apanhem porque têm competências reconhecidas para elas, e serem os que têm melhor preparação para exercer essas atividades. Depois, dentro das atividades clássicas, existe a necessidade de subespecialização. Por exemplo, na farmácia comunitária ou na farmácia hospitalar é fundamental que comecemos a ter colegas diferenciados em áreas dentro dessa grande área, nomeadamente, por exemplo, subespecialização em oncologia, em cuidados intensivos, em pediatria, em saúde mental, etc. É fundamental, e aqui é um papel da OF, que nas diferentes áreas em que é necessária a especialização, que haja o seu reconhecimento, através da criação de subespecialidades ou de competências, depende do que for mais adequado a cada situação. É importante que isto aconteça e que seja reconhecido das carreiras profissionais.

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