Uma nova investigação liderada por André A. Santos, investigador no iMed.ULisboa – Instituto de Investigação do Medicamento da Faculdade de Farmácia Universidade de Lisboa, do grupo de investigação de Cecília M. P. Rodrigues, trouxe novos dados sobre a relação entre duas doenças crónicas que frequentemente coexistem: a colangite esclerosante primária (CEP) — uma doença hepática rara — e a doença inflamatória intestinal (DII).

O estudo, realizado em colaboração com a médica gastroenterologista Joana Torres (Hospital Beatriz Ângelo, Hospital da Luz e Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa), contou com a análise de amostras de sangue e de tecido do cólon de pessoas com CEP-DII, com DII isolada e de voluntários saudáveis.

Os investigadores verificaram que os doentes com CEP apresentam um tipo único de inflamação intestinal, diferente da que se observa em casos de DII isolada. Esta diferença poderá estar relacionada com alterações nos ácidos biliares — substâncias produzidas no fígado, essenciais na digestão das gorduras e na comunicação entre fígado e intestino.

Essas alterações são detetadas em particular num ácido biliar chamado ácido glicoceno-desoxicólico, encontrado em níveis aumentados no sangue de doentes com CEP-DII, que parece alterar a forma como o sistema imunitário responde, induzindo uma ativação inflamatória distinta. Esta alteração pode ajudar a explicar o comportamento atípico da inflamação intestinal nestes doentes, que apresentam uma maior probabilidade de desenvolver cancro intestinal, possivelmente devido à resposta alterada do sistema imunitário originada pelo excesso de produção de ácidos biliares.

Esta descoberta é relevante pois a CEP “apresenta um tipo único de inflamação, possivelmente causada pela existência de ácidos biliares no sangue, que altera a capacidade de diferenciação do sistema imunitário. Esta alteração ajuda a explicar por que razão a inflamação intestinal na CEP se comporta de forma diferente da DII isolada.”, indica André A. Santos.

Este estudo representa mais um passo na compreensão de cada uma destas doenças, tanto quanto na forma isolada, como em cenários em que o doente apresenta as duas patologias em simultâneo, algo que acontece em 80% dos casos.

O artigo foi publicado na revista Clinical Science e pode ser consultado em: https://doi.org/10.1042/CS20256078.